terça-feira, 13 de julho de 2010

O que mais há sobre isso ?

Roma, um Estado de mimos
Graças ao longo período em que Roma se destacou como exemplo de poder e organização social, seja na forma republicana e tanto mais como império, é intrigante constatar o quanto um Estado hegemônico, tendo como traço marcante sua vocação militar e portanto autoritária, possibilitou a popularização de linguagens teatrais tão diversas. A começar pela comédia latina que, através de Plauto e Terêncio, influenciou a literatura de uma época ou ainda no campo da farsa burlesca, tantas manifestações floresceram com características regionais - Satura, Fescenina e Atelana - inspirando muitas gerações e sobretudo descortinando um imenso caminho para a atuação dos mimos, uma arte tão antiga e democrática.
É certo que o governo romano de um específico momento histórico patrocinou a "ideologia do pão e circo" e promoveu grandiosos espetáculos com corridas de bigas, lutas entre gladiadores e matança de animais, tendo como palco principal o grande símbolo do poder de Roma: o Coliseu. Ao mesmo tempo perto ou longe dali, no vasto Império, os mímicos demonstravam suas inúmeras habilidades além do exercício da plena democracia, pois à época era o único gênero teatral, em terras romanas, que admitia a atuação feminina; ligação profunda com a graça e leveza da mímica.
Aos mimos bastava um pequeno espaço para que pudessem impressionar ao público com suas acrobacias, gestos precisos e narrativa universal, capazes de abordar pelas vias trágica ou cômica, temas banais ou críticas mordazes ao que merecesse.
Podendo até dispensar o texto, o que era vantagem diante da política romana censora, a mímica foi tomando aos poucos os espaços públicos, favorecendo a linguagem teatral como um todo, além de se fazer uma atividade digna de ser apreciada por qualquer classe social. Na vida peregrina, seus artistas influenciavam e eram influenciados por outras formas expressivas, construindo, desse modo, um repertório artístico que só fez aumentar os recursos para o palco, ampliando a interação de gêneros, acentuando suas peculiaridades e os consagrando independentes.
O público tinha à sua disposição o que o Estado preferia lhe dar como espetáculo, mas a despreocupação das autoridades com a arte favoreceu a "explosão da cultura popular" em Roma, que por um grande período teve no mimo uma força tão híbrida quanto a própria cultura romana, e que pela sua diversidade técnica e simplicidade plástica foi a propulsora expressão do teatro de uma época e que primou pela habilidade, pela crítica e pela estética.
O que mais há sobre isso ?
Referências bibliográficas:
Aristóteles. A poética, Ed. Abril, SP, 1999.
Berthold, Margot. História mundial do teatro, Ed. Perspectiva, SP, 2000.
França, Clebe. Mimos e pantomimas, Artigo in rede, SP, 2001.

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